sexta-feira, 20 de maio de 2011

Confira trechos do livro de português que causou polêmica

Desde que a grande mídia começou a atacar o MEC pelo fato de o mesmo ter autorizado e indicado um livro de Língua Portuguesa com "erros gramaticais graves", preferi aguardar para tecer comentários sobre o assunto. Preferi a cautela pelo fato de não conhecer a obra e por saber como age nossa mídia: sem aprofundamento nos temas e colocando os seus princípios e ideias como se fossem verdades absolutas.
No estudo de Linguística não há o conceito de certo ou errado, e sim, de forma adequada ou inadequada de fala ou escrita. Ao analisar a obra é isso que vemos: a autora mostra em uma unidade do livro, esse conceito, mostrando que não há certo ou errado, mas fica claro que ela orienta o leitor que há uma norma culta e que conforme a situação o indivíduo deve saber usá-la (observem o último parágrafo reproduzido abaixo). Conceitualmente corretíssimo!
Mirtes.

O livro de português foi distribuído pelo MEC para tumas de Educação de Jovens e Adultos (EJA)
Foto: Editora Global/Reprodução


O livro Por uma Vida Melhor foi distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) para turmas de educação de jovens e adultos (EJA) em todo o Brasil. A publicação causou polêmica ao incluir frases com erro de concordância em uma lição que apresentava a diferença da norma culta e a falada.
Confira abaixo trechos do livro sobre o assunto:

"É importante saber o seguinte: as duas variantes (norma culta e popular) são eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros".

"'Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado'. Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar 'os livro?'.' Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião".

"Na variedade popular, contudo, é comum a concordância funcionar de outra forma. Há ocorrências como:
Nós pega o peixe. - nós (1ª pessoa, plural); pega (3ª pessoa, singular)
Os menino pega o peixe. - menino (3ª pessoa, ideia de plural - por causa do "os"); pega (3ª pessoa, singular).
Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe. Mais uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala".

"É comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros. Esse preconceito não é de razão linguística, mas social. Por isso, um falante deve dominar as diversas variantes porque cada uma tem seu lugar na comunicação cotidiana".

"A norma culta existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral, ou seja, quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais, utilizando a norma culta. Algo semelhante ocorre quando falamos: conversar com uma autoridade exige uma fala formal, enquanto é natural conversarmos com as pessoas de nossa família de maneira espontânea, informal".

7 comentários:

  1. Oi Mirtes,
    Eu não entendo o porquê de se criar tanta polêmica sobre isso, quando existem tantos outros assuntos, dentro da educação, de muito maior prioridade (acho que é para afastar a atenção da Amanda Gurgel, que virou “hit” na internet, com seu discurso maravilhoso!).
    A verdade é que não há o que se falar disso, existe um livro básico sobre o assunto, chamado “Preconceito Linguistico”, do Marcos Bagno. Explica tudo direitinho e vale a pena ser lido. Eu sempre falo aos meus alunos, que sei falar direito, mas às vezes não consigo, e exemplifico: eu sei que é certo dizer: “se vir a Mirtes, mande um abraço”, mas sempre sai: “se vc ver a Mirtes,...”. O importante é saber adequar. E mais que isso, que direcionem as preocupações sobre a educação aos pontos que são realmente preocupantes.

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  2. É Olivia,
    Cria-se polêmica onde não há polêmica. Sobre a verdadeira situação da educação nesse país, sobre onde estão seus pontos mais frágeis, nada é falado. Até fazem algumas reportagens sobre educação, mas sempre sempre sem aprofundamento e sem cobrança das autoridades como estão fazendo no caso desse livro (o senado convocou o Haddad para comentar o caso em plenário!). Creio que as redes sociais podem ajudar a combater esse descaso, haja vista o que está acontecendo com o vídeo da Amanda Gurgel.
    Bj

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  3. Meu Deus, Senhoras pedagogas, que bom que nossos alunos já são alfabetizados, podemos agora ensinar-lhes o modo ERRADO de se escrever e falar, já que são mestres no modo CORRETO. Eu, como estudante de licenciatura, sinto-me envergonhado com tanto diletantismo de vossa parte.

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  4. Heitor, há um grande equívoco em toda essa questão. Equívoco criado ao se selecionar um trecho de um livro e divulgá-lo fora de contexto. O livro em questão não ensina ninguém a falar ou escrever errado, muito ao contrário disso, em um dos seus capítulos ao tratar de variações linguíticas (conceito tratado numa ciência chamada "Linguística" - nascida a partir de estudos do suíço Ferdinand Saussure),
    a autora esclarece que em todas as línguas existem as variações linguísticas : variação histórica, variação geográfica, variação social e variação estilística e ela cita exemplos dessas varições na língua portuguesa. Partindo do conhecimento dessas variações não há o conceito de certo ou errado, e sim de adequado ou inadequado.
    No livro em questão, a autora explica esse conceito (conceito este, não criado por ela) e vale ressaltar que o livro é destinado ao Ensino Médio EJA (Ensino de Jovens e Adultos, o antigo supletivo), ou seja pessoas adultas, trabalhadores que tem discernimento suficinete para entender esses conceitos. É importante deixar claro que a autora do livro afirma em sua obra que existe a norma culta da língua portuguesa e que somente com o conhecimento e uso da mesma o cidadão consegue pleitear direitos e conquistar postos de trabalhos melhor remunerados. Seria um contrasenso imaginarmos que a escola fosse ensinar a falar ou escrever errado, isso as pessoas já sabem, portanto o papel do ensino da língua portuguesa é mostrar que existem as variaçãoes linguísticas, mas ensinar a norma culta.
    Como você afirmou que está fazendo licenciatura, creio que seria muito bom você dar uma pesquisada no que é a linguística, nas variaçãoes linguíticas e principalmente na diferença de alfabetização e letramento pois, pelo que vc escreveu parece que isso não está claro para você. Minha licenciatura não foi língua portuguesa, mas estudar e aprender isso foi muito importante para mim. Fica a dica.
    Um abraço.

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  5. Meu Deus!!!!!
    Quando li neste blog o trecho do livro que está causando essa pseudo-celeuma, esse estardalhaço da mídia hipócrita e ignorante, não acreditei...
    Pois o livro explica muito CLARAMENTE o que é provado e disseminado pela ciência LINGUÍSTICA em cem anos de estudo! E é isso que eu e milhares de bons professores de português temos repetido em sala de aula diuturnamente!!!!!!!!
    Meu Deus, estamos mesmo numa nova Idade Média, onde o conhecimento é deturpado e desprezado e a IGNORÂNCIA campeia mentes e corações...
    "Oh, caos profundo onde não topo luz"! - como diria Gregório de Matos...
    É inacreditável que um Congresso chame o ministro de Educação para explicar o óbvio! Desperdício + ignorância + antidemocracia + autoritarismo + preconceito + corrupção = Congresso Nacional...
    É inacreditável que chamem aquele almofadinha Gustavo Ioschchchcshpe para "explicar" em vez de qualquer linguista da UNICAMP, USP, UFRJ, UFMG - como se o economista almofadinha, inexperiente, que arrota sua arrogância dizendo que professor ganha muito bem - como se essa pessoa entendesse muito bem do assunto...
    MEU DEUS, senhor licenciando Heitor! Ao senhor, um conselho: ESTUDE!!!!!!!!!

    Mirtes, parabéns pela paciência em responder esse tal de Heitor, que deve mesmo estudar mais, se quiser ser mesmo um bom professor.

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  6. Caro Heitor
    Como estudante de licenciatura e, portanto, futuro professor, você deve saber que para se fazer qualquer crítica precisamos embasá-la muito bem, analisando todos os possíveis aspectos que a questão apresenta. A polêmica dessa cartilha é, a meu ver, realmente uma “falsa polêmica”, baseada em um olhar restrito e unilateral que afasta o foco de outras questões muito mais pertinentes à educação. É preciso lembrar que ela se destina aos alunos do EJA, que chegam à escola com uma forma de comunicação já construída, sendo assim importante que reconheçam seu processo comunicativo (não de uma forma excludente, mas com a aceitação da alteridade lingüística) para a partir daí adquirirem a norma culta. Assim, não é o caso de “alfabetizar” errado, mas de praticar a inclusão e ensinar adequação.
    Quanto a se envergonhar de nosso diletantismo, leia o que diz Marcos Bagno, http://marcosbagno.com.br/site/, e repense se a sua posição não é só fruto do que uma mídia irresponsável faz.

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  7. Sírio Possenti também esclarece a "polêmica" (e me corrige - são 200, e não 100, anos de estudos linguísticos):

    http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5162379-EI8425,00-Eppur%20si%20muove.html

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